Balão Felipinho
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“Na noite escura,
profundamente estrelada – a surpreendente beleza desse céu do sertão
brasileiro! – balões sobem, aos boléus no vento, de formas impagáveis chameiam
estrelinhas, esfuziam as rodinhas, lampejam os pistolões, as fogueiras ardem,
piramidais, alumbradamente”. Assim Gastão de Bettencourt – escritor português
apaixonado pelo folclore brasileiro – no livro “Os três santos de Junho no
folclore brasílico” (Agir, Rio de Janeiro, 1947), inicia o capítulo dedicado
aos balões coloridos, que um dia já iluminaram, sem o pecado da culpa, nossas Festas
Juninas.
Essa descrição “de um céu
de beleza ímpar, iluminado pelos balões juninos”, hoje não se aceita mais –
fabricar, portar ou soltar balões é crime! (Lei 9.605 de 12/02/1998 - Art. 42
– Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que
possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas
urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano: - Pena - detenção de um a três
anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente).
Os noticiários da TV gritam
o decreto com tanta ênfase, com o tom de voz mais acusatório e ameaçador
possível, fazendo o corpo do telespectador tremer, o sofá tremer, a sala toda tremer
– pois o pavor de ser tachado de criminoso nele cai como uma carapuça, na medida.
Porém, a tradição das Festas Juninas – aqui incluído o sagrado tríduo de Junho:
São João, Santo Antônio, São Pedro – não deixa esquecer esse acessório que
torna a noite de Junho mais lúdica e bonita, consagrado através dos tempos pela
música, pelas de advinhas, cirandas e outros folguedos típicos da época. Que o diga o cancioneiro popular...
“Cai, cai balão
Você não deve subir
Quem sobe muito
Cai depressa sem sentir
A ventania
Da tua queda vai zombar
Cai, cai balão
Não deixa o vento te levar”
(Assis Valente)
“Olha pro céu meu amor
Vê como ele está lindo
Olha aquele balão
multicolor
Meu amor vê como no céu vai
sumindo”
(José Fernandes)
“Meu balão azul
Foi subindo devagar
O vento soprou
Meu sonho carregou
Nem vais mais voltar”
(Carlos Braga Alberto
Ribeiro)
É assim a cada ano, quando
ressurgem as tradições do mês de Junho, assentado como o Mês do Folclore Brasileiro.
Em toda a parte ardem fogueiras, sobem balões, dançam-se quadrilhas, girândolas
e fogos rebentam no ar. Fogueiras e balões, fogos de artifício, sortes,
adivinhas, canjica, pamonha, milho assado na brasa da fogueira, música ao som
da viola e da sanfona, roupa colorida, lenço no pescoço, chapéu de palha, para dançar,
ouvir cantoria, cirandar nas rodas. Na preparação tem o banho de cheiro, exposição
de pássaros, dança de boi no terreiro, eis completado o emaranhado cultural que
ocorre nos meses de Junho e Julho. O país é tomado de uma febril excitação,
tanto o Norte/Nordeste quanto o Sudeste e tantas as terras que acoitaram
emigrantes nordestinos. Paira no ar estagnado a mistura de aromas, o povo se
confraterniza, a sanfona, a viola e o balão fazem o furor, nos terreiros a
alegria se estampa.
A Prefeitura Municipal de
Nísia Floresta todos os anos divulga a programação para a Festa do Balão, em
2014 entrando na 9ª Edição! O evento acontece nos dias 28, 29 e 30 de agosto,
com palco montado ao lado da igreja matriz de Nossa Senhora do Ó, situada no
centro da cidade. Quem olhar para o céu nas noites dos festejos pode ver mais
que estrelas e faíscas das fogueiras. É Dia de São João e os balões de festa
junina – ou balões de São João – continuam colorindo o céu em todo o Brasil,
apesar da proibição. Apesar de serem acusados de provocar incêndios e
prejudicar a aviação. A tradição trazida de Portugal se mantém nos meses de
inverno principalmente no Nordeste, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Sensível à questão, o
Congresso analisa dois projetos de lei: um que aumenta a punição para quem
solta balão e outro que regulamenta a soltura de balões. Os dois projetos foram
apresentadas pelo mesmo parlamentar, deputado Hugo Leal (RJ). “Primeiro
apresentei o projeto que aumenta as penas. Logo comecei a receber mensagens de
várias pessoas, entidades, associações, todos os setores, até bombeiros.
Estudei o assunto e apresentei o segundo projeto sem retirar o primeiro porque
temos que diferenciar o balão criminoso, que muitas vezes carrega fogos de
artifício, daquele balão de festejo, chamado japonês, o balão junino da cultura
popular”.
A Sociedade Amigos do
Balão, do Rio de Janeiro, através do seu presidente Marcos Real, garante que os
parâmetros propostos resultam em balões incapazes de causar incêndios. Ele
estima que mais de 100 mil balões voam soltos nos céus do Brasil e não há um só
registro de acidente aéreo causado por balão. “Em nenhum país do mundo existe
proibição total como a que existe no Brasil. Agora em julho é realizado no
México o Festival de Balões, com participantes de todo o mundo – o Brasil
estará representado. Em Mianmar [antiga Birmânia], a soltura de balões faz
parte do circuito turístico oficial”.
O senador Humberto Costa
(PT-PE) discorda dessa estimativa. Representante de um estado onde é forte a
tradição das Festas Juninas (Pernambuco), ele garante que não vê ninguém
soltando balões nessas ocasiões. “O projeto tenta se justificar apenas pela
preservação da cultura popular, sem dados científicos sobre riscos”. Humberto
Costa demonstra que sua herança está alinhada com a oligarquia e com os
governos autoritários do passado. Não basta ostentar a estrela do PT para se
considerar desvinculado do terror. Hoje em dia cada vez mais isso se apresenta
como improvável. Ademais é pouco plausível que o deputado passe as Festas
Juninas em Pernambuco – aposto mais na Avenue des Champs-Élysées.
Já existem outras opções
para manter essa tradição nas Festas Juninas: são os chamados “balões sem fogo”,
já admitidos por leis municipais nas cidades de Rio de Janeiro, Niterói, São
Gonçalo e São João de Meriti (Rio de Janeiro) e Cerro Azul (Paraná). Em São
Paulo, a ideia está sendo discutida. Não existe uma estatística que prove que a
maioria de incêndios florestais tem como causa os balões. Quem incendeia
floresta impunemente são madeireiros, plantadores de soja, criadores de gado, grileiros
e invasores de terra. Também nunca li notícia que avião tenha caído, nem que
uma refinaria de petróleo tenha se incendiado por causa de balões. A não ser na
Síria, onde as refinarias de petróleo são bombardeadas pela França – em nome da
Máfia Internacional dos Crimes Contra a Humanidade – a Coalizão.
Pesquisa e parte dos textos
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